quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Top 5 filmes 2015



Em 2015 muitas gratas surpresas no mundo cinematográfico surgiram e me fizeram reafirmar a confiança, em especial, na consistência da produção nacional. Sintetizo, neste texto, cinco películas, entre elas, duas nacionais, que mais me encheram os olhos neste ano que chega ao fim, seja pela densidade de seu discurso, pela desconstrução estética, ou até pelo destemor em buscar na tradição literária as sementes para criatividade imagética.


5. Love, de Gaspar Noé

Em Love, primeiro longa 3D de Noé, a narrativa não-linear não dissimula ou camufla, e sim desnuda o estudo acerca dos recorrentes estágios da história de um casal: o ideal romântico, quase platonizado, a posse, a traição, o desencanto e o desapego sofrível do término. Aqui, o honesto Noé nos insere em profundidade na rotina dos amantes, quase como voyers – o artifício do fade out em repetição curta e rápida torna isso ainda mais verossímil. O diretor nos promete novamente algo em completa contramão ao habitual, e em mais uma de suas experiências sensoriais - mais sentimental do que sensorial, por assim dizer -, trouxe-nos o amor como pauta para discussão. Ok, tema desgastado pela abordagem facilitadora de identificação. Só que o que Gaspar faz é ainda assim inédito. Ele recheia o longa de cenas de sexo explícito e discussões de gênero em torno de sexualidade e fidelidade. Nada mais natural, visto que o sexo é inerente às relações humanas, sejam elas quais forem. Censurar isso é como ignorar nossa existência.

Lágrimas, sangue, esperma: os fluidos quais tipificam nossa pluralidade estão em comunhão potencializada em Love. A linguagem metalinguística, por sua vez, é a grande protagonista da obra que torna-se uma estonteante combinação entre hiper-realidade e vanguarda, e, sem propor classificações de gênero, supera qualquer tipo de convenção. Uma experiência cinematográfica que não se pode deixar de ter.


4. A Pele de Vênus (La Vénus à la fourrure), de Roman Polanski



Produzido em 2014, mas em cartaz somente em 2015, é em A Pele de Vênus que Polanski se desnuda. Isso porque o diretor parece tratar de questões pessoais da forma mais franca possível, num jogo metalinguístico que expõe em demasia a figura do próprio artista. O livro do século XIX que deu origem ao roteiro do filme, trata do fetiche de um homem que se torna escravo de uma mulher, com direito a chicotes e afins. O livro em si já é autobiográfico, visto que o escritor austríaco Leopold von Sacher-Masoch reproduziu as relações de dominação que mantinha em sua vida íntima. O masoquismo, tema principal do romance, é um termo criado a partir do sobrenome do escritor.

No filme de Polanski, adaptação ao cinema da peça homônima de David Ives, um diretor de teatro está em busca uma atriz principal para sua releitura do livro e o processo também traz à tona vários dos seus conflitos. O filme, que se passa inteiro num teatro, é composto pela disputa de poder entre o artista e sua musa. Para isso, Polanski intercala o onírico e o mundano, num exercício que nos relembra de que a atriz jamais poderia ser somente um arquétipo fruto da fantasia.

De modo geral, A Pele de Vênus, então, é o resultado das inúmeras cruzes que Polanski carregou ao longo da vida, além de uma representação incontestável de relações de sexo e culpa que o cineasta exorciza na sua obra. Embora este seja um filme genuinamente aberto por tratar de filosofia, arte, autoconhecimento, Polanski é um impecável maestro da encenação, na noção mais pura do teatro, que é tornar a linguagem verbal uma expressão corporal.


3. Boi Neon, de Gabriel Mascaro

O pernambucano Boi Neon e traz um microcosmo muito particular, o dos trabalhadores nômades de vaquejadas, obrigados a viajar entre cidades onde os eventos são sediados. A função de Iremar (Juliano Cazarré) é preparar os bois para os torneios, ao mesmo tempo que neste ínterim sonha em se tornar desing de moda. Um “boi neon”, um “vaqueiro estilista”, utopias discrepantes, distantes, quase irreais. Todavia, o personagem insiste em desenhar roupas, criar modelos, até que, assim como os bois, imprensados entre as cercas, percebe que não há escapatória. Sonhar é consentido, pois dinamiza o corriqueiro de nossas vidas, desde que a realidade nos aprisione logo em seguida.

Gabriel Mascaro trabalha na densidade de um enredo que não nos engana: por mais onírico que pudesse ser, há uma pontual perversão de expectativas. A frustração toma o lugar da idealização.O longa-metragem declara também que rótulos reduzem nossa pluralidade. Julgar deliberadamente é minimizar o ser. As figuras de Galega (Maeve Jinkings) e sua filha, a garotinha Cacá (Alyne Santana) refletem justamente isso, a dureza de uma vida onde a mulher é subjulgada por realizar um trabalho “genuinamente” masculino.

Tecnicamente: muita luz natural, fotografia escurecida em planos fechados, personagens imprensados por cercas e cortes abruptos. Tudo isso através de nós mesmos, espectador observador de uma narrativa de formas cronologicamente lentas, uma rotina sem fim; linear. Boi Neon se preocupa com o futuro, mesmo que apenas por meio de idealismo, apresentado em suas fragilidades, incoerências e decadências.


2. Que Horas Ela Volta, de Anna Muylaert



Regina Casé assustadoramente impecável no papel da empregada Val, que trabalha para uma família de elite em São Paulo, não vê sua filha há tempos. Ao exercer a função de doméstica, inconscientemente a substituiu pelo filho dos patrões que ajudou a criar. No entanto, Jéssica (Camila Márdila), filha de Val, sai de Pernambuco para prestar vestibular em São Paulo e o reencontro com a mãe se torna uma luta de classes dentro do casarão, onde o filme hegemonicamente se dá.
Regina Casé traz a anulação do estereótipo da nordestina tipicamente mostrada nos dramas novelescos da Globo. Já Camila Márdila nos revela a indignação que não há na personagem de Val, a revolução. Já a patroa vil (Karine Teles), beira uma caricaturada vilã dos contos Disney, além do pai da família (Lourenço Mutarelli), figura de um homem frouxo e recessivo. A obra é repleta de metáforas e acidez através do elemento risível, e concorre a uma vaga na categoria de filmes estrangeiros na premiação do Oscar 2016.


1. Divertida Mente (Inside Out), de Peter Docter



A Disney em mais uma parceria com a Pixar, retorna à sua melhor forma nesta animação escrita e dirigida por Pete Docter. O que mais me impressiona na obra é o roteiro, porque temos aqui o estudo de conceitos completamente abstratos. Afinal, a trama gira em torno (e dentro) da mente de uma garotinha, Riley, tendo como protagonistas as cinco emoções responsáveis por sua condução: Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojinho (ou repulsa). Cada emoção possui cor e temperamentos próprios, num primoroso estudo imagético. Na verdade, Divertida Mente é psicologia pura. Vários são os conceitos adaptados em alegorias: o poder do inconsciente e sonhos; a sexualidade e até mesmo a depressão. Divertida Mente discursa ainda contra a vilanização da tristeza e mostra a importância de lidar com ela no cotidiano, ao invés de afugentá-la de toda maneira. Inclusive, a personificação desse sentimento no filme é uma das personagens mais carismáticas e queridas dos espectadores.

A Pixar conseguiu, ao longo dos anos, criar universos bastante criativos a partir de situações inusitadas. Assim foi com Toy Story (universo dos brinquedos), Procurando Nemo (a vida no oceano), Monstros S.A. (uma criança como ameaça aos monstros) e outros tantos. Com Divertida Mente o estúdio se superou, porque além de tudo ainda teve que buscar meios extremamente criativos para tornar concreto e viável algo que não é palpável, tornando a produção digesta para todos os públicos.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Epílogo: Janela de Cinema 2015



O Janela Internacional de Cinema do Recife chega ao fim de sua oitava edição com 10 dias de pura sinergia em torno das três salas contempladas em 118 sessões, numa soma de cerca de 20 mil espectadores, recorde do festival. Para os espectadores em tentativa incansável de conciliar todas as projeções, apenas um DeLorean ou um vira-tempo o tornaria possível. Haha! Essa colisão constante de filmes longos, clássicos, curtos, novos e de arquivo são acolhidos intimamente pelo público num delicioso processo de triagem individual.

Organizado pela CinemaScópio Produções Cinematográficas e Artísticas, o Janela realizou no último domingo, dia de encerramento desta edição, a cerimônia de premiação. Na competição de longas, o prêmio principal foi para “Futuro Junho”, de Maria Augusta Ramos. O filme também levou menção honrosa do Janela Crítica, além do prêmio de melhor longa pela Associação dos Blogs de Cinema de Pernambuco (ABC/PE).

Os vencedores dos melhores curtas internacional e nacional foram o australiano “Caravan”, de Keiran Watson-Bonnice e “Lembranças de Mayo”, de Flávio C. von Sperling, respectivamente. Já na categoria som, venceu “Mate-me Por Favor”, da diretora carioca Anita Rocha da Silveira. Já as atividades referentes às oficinas do “Aulas de Cinema do Janela”, incentivadas pela Petrobras, ainda estão acontecendo no Portomídia, Bairro do Recife, e contemplam cerca de 35 alunos, entre cursos gratuitos e pagos.

A última sessão transmitida este ano pelo Janela foi a de “Luzes da Cidade”, clássico estrelado, escrito e dirigido por Charlie Chaplin, que também compôs toda a trilha orquestrada do longa-metragem. Além da genialidade evidente, um dos grandes inconformistas do cinema, cujo mote era a liberdade artística completa, sofreu durante anos nas mãos da indústria hollywoodiana. A simbologia presente na escolha desta obra para encerramento do Festival está nas críticas ao sistema, nas desigualdades e outros diversos problemas sociais que o Janela luta incessantemente e que é inerente à filmografia do diretor. Além disso, o romantismo no modo de enxergar e viver a vida de Carlitos também é um dos emblemas que o evento carrega irrefutavelmente.

A maratona fílmica, a descoberta de vertentes cinematográficas, as novas amizades, os aprazíveis encontros em torno dos cinemas, a mobilização antes das sessões, as conversas fervorosas aos pés dos rios Capibaribe e Beberibe... Só nos resta lamentar por ter sido tão efêmero. Mas ano que vem tem mais!


terça-feira, 10 de novembro de 2015

Cría Cuervos x Boi Neon: a identidade utópica do ser


Durante o primeiro final de semana da oitava edição do Janela de Cinema pude contemplar, entre tantas, duas obras adversas em gêneros, períodos e nacionalidades, ao mesmo passo que extremamente congruentes em apresentar a vida de seus personagens principais através de microcosmos da amplitude contextual que os cerca: Cría Cuervos (1973), do espanhol Carlos Saura, e Boi Neon, do pernambucano Gabriel Mascaro (2015).

Em Cría Cuervos, observa-se que a repressão reverbera dentro do seio da família, em tese, instituição de construção do caráter e ufanismo daquela época. Entretanto, a escuridão do lar, as relações tensas e frígidas fotografadas no filme são um convite à claustrofobia, representação da queda do regime fascista espanhol. Aqui encontramos as soluções anti-censura do diretor Carlos Saura, a crítica à falida instituição do casamento, mas acima de qualquer esfera, temos um filme sobre a família: a história de Ana (Ana Torrent) e as nubladas recordações da infância. As mortes da mãe e do pai num curto intervalo de tempo, a hodierna presença da tia, a enferma avó, a amante do pai e o “veneno”, metáfora do ilusório domínio que acreditava ter sobre vida e morte das pessoas à sua volta; a maneira mais fácil que encontrou para lidar com aquela realidade.



Já o tão aguardado pelo público, Boi Neon, foi ovacionado em estreia pernambucana e traz um microcosmo muito particular, o dos trabalhadores nômades de vaquejadas, obrigados a viajar entre cidades onde os eventos são sediados. A função de Iremar (Juliano Cazarré) é preparar os bois para os torneios, ao mesmo tempo que neste ínterim sonha em se tornar desing de moda. Um “boi neon”, um “vaqueiro estilista”, utopias discrepantes, distantes, quase irreais. Todavia, o personagem insiste em desenhar roupas, criar modelos, até que, assim como os bois, imprensados entre as cercas, percebe que não há escapatória. Sonhar é consentido, pois dinamiza o corriqueiro de nossas vidas, desde que a realidade nos aprisione logo em seguida.


Gabriel Mascaro trabalha na densidade de um enredo que não nos engana: por mais onírico que pudesse ser, há uma pontual perversão de expectativas. A exemplo da cena em que uma revendedora de cosméticos convida o vaqueiro a visitar uma fábrica têxtil, na qual trabalha como vigilante, aproximando Iremar do mundo almejado, no entanto impedindo que mexa nas máquinas. A frustração novamente toma o lugar da idealização. Logo em seguida, uma extensa e lasciva cena entre os dois faz cair por terra qualquer convenção de que o personagem pudesse ser homossexual. O longa-metragem declara que rótulos reduzem nossa pluralidade. Julgar deliberadamente é minimizar o ser.



As duas obras, além da identidade simbólica traduzida em âmbitos minimizados, emprestam, quase que organicamente, ares de surrealismo em diversas sequências, além de engatar uma espécie de um humor dramático, por assim dizer. Porém, acredito que o grito contra a misoginia também ressoe em ambas. A mãe de Ana, em Cría Cuervos, representa a fragilidade feminina em tempos fascistas, de disciplina militar e bons costumes. Esquecida, traída, sofrida. Já as figuras de Galega (Maeve Jinkings) e sua filha, a garotinha Cacá (Alyne Santana) em Boi Neon, refletem a dureza de uma vida onde a mulher é subjulgada por realizar um trabalho “genuinamente” masculino. Além disso, são vítimas de abandono  do marido de Galega, pai da menina.



A infância roubada, portanto, também é tema recorrente nos longas. Ana, em Cría Cuervos, uma criança que encontra nessa fase a mãe dos seus traumas. Com Cacá, em Boi Neon, não é diferente. Afinal, somos o produto dos nossos pais. Um resultado de sucessivas transferências dos arquétipos que nos rodeiam. Essas duas meninas sofrem a dor da ausência daqueles que amam, e acima de tudo, a dor da presença daquilo que tentam negar progressivamente através de sonhos: a aflita existência.

Cría Cuervos explora os caminhos da memória, o significado que podemos dar às lembranças, o acerto de contas com o passado que o presente reivindica. Tecnicamente: o claro e escuro, os locais hermeticamente fechados, o encarceramento, as regras de como se portar a mesa, o abandono transposto em objetos como a piscina vazia, o descampado, a gaiola do animal de estimação. Tudo isso através do olhar de Ana, numa narrativa com diferentes temporalidades; não-linear.



Boi Neon se preocupa com o futuro, mesmo que apenas por meio de idealismo, apresentado em suas fragilidades, incoerências e decadências. Tecnicamente: muita luz natural, fotografia escurecida em planos fechados, personagens imprensados por cercas e cortes abruptos. Tudo isso através de nós mesmos, espectador observador de uma narrativa de formas cronologicamente lentas, uma rotina sem fim; linear

As obras convergem dentro de equivalências, porém não temáticas, textuais ou técnicas. O ponto de confluência é o estudo da identidade multíplice dos personagens, seus anseios e inquietudes. O título “Cría Cuervos” deriva de um ditado espanhol: “crie corvos e eles te arrancarão os olhos”, mas quais seriam os corvos de cada um de nós? E os de Ana? E os de Iremar? E os de Cacá e Galega?




quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Prólogo: Janela de Cinema 2015


Estamos a apenas dois dias do início do Festival mais aguardado pelos entusiastas e amantes do cinema pernambucano: o Janela Internacional de Cinema do Recife. Improvável que não haja sobressalto acerca da espera por essas duas semanas de overdose fílmica, contaminante dos ares provincianos com uma fervorosa espécie de sinergia artístico subversiva. Parece-me que durante estes 15 dias a desesperança política e a falta de crença citadina dão lugar a uma pontual sensação de refúgio que só se pode encontrar na completude da sétima arte.

O Festival, que marca sua oitava edição, desta vez traz duas novidades. A primeira é que este ano os três cinemas de rua da cidade contemplarão a projeção dos filmes de 6 a 15/ 11: Cinema da Fundação Joaquim Nabuco (Derby), Cinema São Luiz (Boa Vista) e o recente Cinema do Museu do Homem do Nordeste (Casa Forte), alternando entre estreias, sessões especiais, debates e reprises. A segunda boa nova é que a venda de ingressos (rapidamente esgotados) se deu também através de plataforma online, o que facilitou em muito a procura por conta da comodidade. Afinal, no ano anterior a organização do festival sofreu severas críticas do público quanto às intermináveis filas que circundavam o Cinema São Luiz e as muitas horas gastas em pé para garantir as entradas. A polêmica chegou até virar motivo de piada em evento de rede social: 


De qualquer forma, é de encher os olhos ver a comoção das pessoas desde a quebra das atividades cotidianas para compra antecipada dos ingressos (mesmo com o advento online este ano, houve grande procura física), até o frenesi das filas momentos antes de cada sessão: é a magia genuína do cinema de rua que só o Janela consegue resgatar.

A foto abaixo foi concebida às 16h desta quarta (6), no Cine São Luiz. // Créditos: Adriano Gomes

Acredito, por outro lado, que o público de Festival venha crescendo, porém sofrendo mutação ao longo das edições. O Janela chega com mais popularidade até mesmo do que o Cine PE. Talvez se deva pela valorização legítima das pequenas às grandes produções locais, liberto de certos vínculos governamentais, além de estimular a consciência crítica do público e entusiastas ao preocupar-se com a feitura de oficinas, palestras, debates e programas de incentivo à criação, a exemplo das vinhetas.

Confira a Vinheta Fight The Power, de 2014:


As oficinas oferecidas este ano são efeitos visuais (VFX) para filmes de baixo orçamento, gratuita e informativa acerca das ferramentas atuais para propor soluções no processo de criação de um filme; oficina Super 8, que comemora os 50 anos de existência deste formato; e a oficina Janela Crítica, destinada a cinéfilos que tenham interesse em exercitar um olhar crítico para o cinema por meio da escrita ao vivenciar esta prática durante todo o festival.

Em 2015, novamente com os fortes apoio do Funcultura e patrocínio da Petrobras, o Janela exibe 118 filmes de 21 países, dentre competição de curtas e longas, além do diferencial de mostras como a “Ghotic Films”, seleção do gênero Gótico Britânico com os títulos: Os Inocentes; Inverno de Sangue em Veneza; A Noite do Demônio; O Homem de Palha; A inocente Face do Terror e outros. Uma grata surpresa para os amantes do terror psicológico onírico, que a grosso modo possui todos os elementos característicos de um filme gótico: castelo lúgubre de alas abandonadas ou em ruínas, corredores úmidos, catacumbas, lendas tenebrosas, maldições ancestrais e até rituais pagãos. Além de vilões perversos, da jovem inocente, vítima maior dos horrores, e o herói – contra as forças do mal desencadeadas.

Imperdível também é a cartela dos clássicos, que contempla diretores consagrados: Quentin Tarantino (Jackie Brown), Ethan e Joel Coen (O Grande Lebowski), Alfred Hitchcok (Intriga Internacional), Charlie Chaplin (Luzes da Cidade), e outros.

Já o programa Cinema de Rua exibirá curtas temáticos sobre aqueles feitos essencialmente na rua e a mostra Filmes de Ação, um apanhado de produções pernambucanas dos últimos cinco anos, criadas por realizadores envolvidos com a causa do Cais José Estelita. A mostra é muito especial porque esses registros foram concebidos como resposta coletiva às decisões de ocupação pública indevida dos espaços da cidade. A proposta é repensar a urbanidade do Recife sem mitigar discurso político, como é recorrente na imprensa. O que carimba mais uma vez o comprometimento social dos envolvidos no Festival.

Entretanto, acima de qualquer esfera, o Janela carrega enorme natureza nostálgica: desde a exibição dos clássicos até as sessões bossa jovem (ao criar retrospectiva das antigas projeções matinês do Cine São Luiz), além dos primorosos ingressos que ensaiam a simbologia de verdadeiros souvenirs. A janela se abre e nos é permitida uma eminente viagem no tempo. As vinhetas funcionam como portais para um universo imaginativo, de cores, lembranças e até de saudade antecipada do momento presente. O frívolo e imediato dão lugar ao excecional, emprestando sabor ímpar aos eventos que ali ocorrem. Uma experiência sensorial de expectativas dentro de um pequeno trecho temporal: fazer o público aguardar o ano inteiro por isso é sem dúvidas o conceito do Festival.

Nesta sexta (6), em sessão especial de abertura do Festival, o filme Boi Neon, do cineasta pernambucano Gabriel Mascaro (Doméstica; Ventos de Agosto), será exibido pela primeira vez no Recife. No elenco, Juliano Cazarré e Maeve Jinkings. Boi Neon acompanha a história de um vaqueiro que sonha em entrar para o mundo da moda. Há muita expectativa em torno do longa que até então já foi premiado em mais de cinco festivais, entre eles Veneza, Toronto e Rio. 

O valor dos ingressos para as sessões do Janela são super acessíveis e vão de R$2 a R$7, a depender do cinema. Se eu fosse tu, eu ia!
Para acessar a programação completa: www.janeladecinema.com.br



terça-feira, 27 de outubro de 2015

Egolatria: argumento risível em Zelig, de Woody Allen

Aqui, sardônica por natureza, a película de 1983, concebida pelo cineasta estadunidense, Woody Allen, é pioneira em estilo e linguagem. Assinatura do gênero mockumentary, ou documentário ficcional, é acima de tudo díspar na esfera didática por discutir, atrelado ao risível, teses da psicologia de massas, além da ufana dinâmica do mundo das famosidades e a abordagem circense da imprensa que torna objetificável e, pior, vendável, a figura humana. Nasce a idiossincrática “celebridade fetiche”.

Neste caso, Zelig, vivido no longa pelo próprio Woody, um homem sereno que tem a bizarra capacidade de mutação de aparência e personalidade. Este camaleão humano cria patologias como meio de aceitação social. Numa maior escala, conforme Jean-Jacques Rousseau, filósofo suíço, “o homem é produto do meio”. Zelig, num exercício hiper real, vai gradativamente adquirindo e perdendo valores e princípios, absorvendo absolutamente tudo à sua volta. Aqui o padrão é o mesmo: fugir desenfreadamente do anonimato dentre a multidão ao consubstanciar, equivocadamente, a fama como admiração afetuosa.

O tratamento a que Zelig é submetido, pela Doutora Eudora Fletcher (Mia Farrow), implica em destrinchar a natureza psíquica de sua anomalia durante sessões de hipinose. Do ponto de vista antropológico, a médica deseja perceber e compreender os fenômenos e influências culturais, por serem, o paciente e todos seres humanos, partícipes, elementos do ente institucional específico que garante autoridade ao ser social. A cada geração, internaliza-se, pratica-se e transmite-se tais valores a nossos descendentes. Compreender esta pluralidade em sua individualidade se torna indispensável ao tratamento de Zelig.

Para Durkheim, sociólogo e psicólogo francês, a coerção social, ou seja a força que os fatos exercem sobre os indivíduos, levando-os à conformidade das convenções, acontece quase que instantaneamente. Sem consentimento e escolha. Nesse âmbito, a adesão inconsciente de Zelig reflete o vazio de sua visão de mundo. O indivíduo em meio ao coletivo desorienta o raciocínio, a consciência e a criticidade, tornando-se vulnerável à mesmerização. Woody Allen, em Zelig, prenuncia as origens das formas narcísicas de individuação da modernidade, que surgiriam mais vigorosamente com o advento da internet (redes sociais) e apelo por atenção efêmera.

Tecnicamente, o documentário também é inovador em sua estética. A sobreposição e colagem de imagens beira o impecável. Com o auxílio da técnica do croma key, Woody inseriu os atores em filmagens reais de longas metragens e jornais do início do século XX, antecipando técnicas usadas em outros filmes, a exemplo de Forrest Gump (1994). A obra faz lembrar também do premiado Birdman (2014) pelo uso da metalinguagem ao tratar do fenômeno narcísico e deflação do ego. Já em gênero, pela comédia dramática documental ficcional, Recife Frio (2009), do cineasta pernambucano Kléber Mendonça Filho. As referências são inúmeras, isso porque Woody fez escola ao acertar na universalidade do argumento de um roteiro à frente de seu tempo.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Love, de Gaspar Noé


A honestidade no cinema é substancialmente volátil e por vezes desapreciada. A reviravolta ao fim, o inesperado, o improvável, tende a agradar muito mais a um público facilmente impressionável, vide modus operandi da indústria fílmica, do que saber lidar com o presumível e ainda assim surpreender-se, mas não da forma convencional, ditada, empurrada goela abaixo.

Basta da trivialidade de produções medíocres! Por mais honestidade cinematográfica e levantamento de questões deixadas às margens! Neste âmbito, Gaspar Noé desponta. Seu cinema ainda que demasiadamente pessoal, é de uma lhaneza orgânica espantosa. Em Love, primeiro longa 3D do diretor, não foi diferente. A narrativa não-linear mais uma vez não dissimula ou camufla, e sim desnuda o estudo acerca dos recorrentes estágios da história de um casal: o ideal romântico, quase platonizado, a posse, a traição, o desencanto e o desapego sofrível do término.

Aqui o honesto Noé nos insere em profundidade na rotina dos amantes, quase como voyers – o artifício do fade out em repetição curta e rápida torna isso ainda mais verossímil. O diretor nos promete novamente algo em completa contramão ao habitual, e em mais uma de suas experiências sensoriais - mais sentimental do que sensorial, por assim dizer -, trouxe-nos o amor como pauta para discussão. Ok, tema desgastado pela abordagem facilitadora de identificação. Só que o que Gaspar faz é ainda assim inédito. Ele recheia o longa de cenas de sexo explícito e discussões de gênero em torno de sexualidade e fidelidade. Nada mais natural, visto que o sexo é inerente às relações humanas, sejam elas quais forem. Censurar isso é como ignorar nossa existência.

Ao quebrar tabus, Noé utiliza de trilha sonora contemplativa, de direção de arte em extremo acerto, de cores simbólicas e como não poderia deixar de ser, das inúmeras homenagens a títulos supremos da sétima arte através dos vários pôsters em plano de fundo; soando subliminar acerca do que se dava em primeiro plano. Referência cinematográfica e estudo de personagem andam juntos no cinema de Noé. Além disso, quase como uma assinatura, os ganchos narrativos de toda sua filmografia também são desmistificados durante a projeção.

Todavia, além de honesto, Noé sabe ser grato. Incontáveis são as homenagens à influência do cinema de Kubrick em sua obra. Desta vez, em Love, ele vai além e verbaliza esta intervenção por intermédio do seu alter ego nas telas: “2001 foi o filme que me fez amar o cinema”, sentencia Murphy, personagem principal do longa. Nomeado assim em menção à própria lei de Murphy que diz que se algo pode dar errado, dará. Mais uma vez Noé carimba a lhaneza em relação ao destino daquele casal, afinal “o tempo destrói tudo”, segundo a máxima de Irreversível, seu longa de 2002.

Já por outro viés, é improvável também não relacionar Love a De Olhos Bem Fechados, última obra de Kubrick. Ambos os filmes se assumem como uma ácida análise acerca de relações amorosas e todas suas implicâncias morais, recessão de utopias, desejos reprimidos em prol da dinâmica de convivência entre duas pessoas.

Lágrimas, sangue, esperma: os fluidos quais tipificam nossa pluralidade existencial estão em comunhão potencializada em Love. A linguagem metalinguística, por sua vez, é a grande protagonista da obra que torna-se uma estonteante combinação entre hiper-realidade e vanguarda, e, sem propor classificações de gênero, supera qualquer tipo de convenção. Uma experiência cinematográfica que não se pode deixar de ter.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

O legado didático do cinema de Kubrick

O cineasta americano Stanley Kubrick (1928-1999) e sua obra continuam a exercer influência pontual aos artistas do cinema e da arte contemporânea. A contribuição do trabalho do diretor aos cineastas que surgiram desde a década de 70 é visível. Filmes como Laranja Mecânica (1971), O Iluminado (1980), 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) e De Olhos Bem Fechados (1999) são marcos essenciais da arte cinematográfica e da experimentação narrativa. Por essa razão Kubrick utilizou-se abundantemente do cinema de gênero: terror, ficção científica, histórico, drama, e até mesmo comédia. Os seus métodos meticulosos, a exemplo das inúmeras repetições de takes, além de grande capacidade inventiva, como o uso das lentes adaptadas pela NASA e utilizadas nas filmagens de Barry Lyndon (1975), o tornaram um dos mais importantes realizadores da história do cinema.

A herança intensa, bem como simpatia revelada pelo humanismo austero na obra de Kubrick, se mostram ainda mais claras nos filmes de ficção científica, por conta do marco que foi 2001: Uma Odisseia no Espaço, e seus elementos de linguagem sensorial, métodos narrativos corajosos, além do trabalho minucioso da trilha sonora. Realizadores de filmes como Alien (1979), Blade Runner – O caçador de Andróides (1982), e os mais recentes Lunar (2009), Gravidade (2013) e Interestelar (2014) já comentaram o legado didático de Kubrick em suas obras e admitem beber da fonte do diretor para obter inspiração. “Sempre que uma trama viaja para fora do planeta é inevitável pensar em 2001. Mas só existe um único 2001 e um único Stanley Kubrick. Ele é inimitável. Mas você pode se inspirar a tentar ter esse tipo de confiança que ele teve”, disse o diretor Christopher Nolan a respeito da influência de Stanley Kubrick sobre a sua recente obra de ficção científica espacial, Interestelar.

O estudante recifense de Rádio e TV, Wagner Dantas, aponta o perfeccionismo nas várias etapas da produção como uma das causas do legado deixado por Kubrick aos cineastas posteriores, onde se inclui trilha sonora, adaptação de roteiro e movimentação de câmera. “Suas referências são muito marcantes e usualmente utilizadas por outros diretores. O ponto de perspectiva centralizada, algo bem organizado simetricamente diante das lentes utilizado recentemente pelo diretor Wes Anderson em O Grande Hotel Budapeste (2014), me remeteu automaticamente a O Iluminado (1980), por exemplo”, pontua Wagner.

Essa relação instantânea com outras obras, muitas vezes não justificada pelos próprios realizadores, sugere ainda assim a importância de características marcantes da obra de Kubrick não só para a escola do cinema mundial, mas para os seus consumidores, comprovando o grande caráter democrático de sua herança.

Kubrick foi um dos poucos cineastas a entender a fórmula entre a qualidade artística e linguagem industrial do cinema americano. Dono deste raro talento foi um dos cineastas mais técnicos de todos os tempos, e usava toda tecnologia disponível a favor da narrativa. Neste sentido, o estudante de Rádio e TV, Wagner Dantas, também elenca o encaixe das trilhas sonoras no roteiro como outro ponto fortíssimo na filmografia do diretor: “A participação do som na narrativa do filme O Iluminado se torna uma espécie de termômetro psicológico do personagem principal, Jack Torrance, e de suas atitudes enquanto vai mudando de personalidade. Esse exemplo foi reproduzido em diversos filmes do gênero terror. No filme Melancolia (2012)de Lars von Trier, a trilha sonora se assemelha a algo de O Iluminado por fazer esse mesmo estudo mental de seus personagens, além de causar estranheza melódica por ter um ponto de vista não convencional. Kubrick também mostrou entendimento sobre criticas sociais em Laranja Mecânica com a pergunta “Você abriria a porta de sua casa para um estranho se ele precisasse de ajuda?” Este método foi o mesmo seguido pelo diretor Michael Haneke em Violência Gratuita (1997)”.

Além das questões técnicas, o cinema de Kubrick marcou pela sensibilidade delicada e pelas audácias políticas e estéticas unidas em prol de um diálogo social primoroso. Sua quebra com a tendência da indústria cultural, todavia, tem uma característica bastante curiosa. A inspiração para seus enredos não era inovadora. Muito pelo contrário. Era na tradição literária que Kubrick buscava as sementes para sua criatividade imagética. Seu ponto de inovação estava mais sobre a forma que sobre o conteúdo.

O resultado do debruçamento de Kubrick sobre obras literárias arrebatadoras que não se esgotavam quando transpostas para atuação, sons e enquadramento foi um cinema, embora hollywoodiano, como obra de arte com identidade própria, proveniente dos recursos específicos da linguagem audiovisual, e ainda assim vendável. Em Kubrick a literatura renascia como filmes. E os filmes, pelo apuro no domínio estético da linguagem cinematográfica, se eram derivados de livros, não eram cópias: tornou-se o caminho da sétima arte para realizar a proeza da adaptação em vez da cópia, era outra expressão da mesma inspiração, original.

Stanley Kubrick potencializou o espírito de uma época em profunda mudança estético-cultural que foram os anos 60, e redelineou o cinema comercial, até então baseado predominantemente em narrativas épicas e dramas romanescos. Ele foi um dos poucos que, finalmente, mostrou ao mundo que existem ideias, sensações e sentimentos que só podem ser expressos por meio de imagens em movimento.

O cinema hollywoodiano não era substitutivo da literatura, uma narrativa linear, uma novela estendida ou um dramalhão. O grande público estava diante pela primeira vez de obras comerciais arrebatadoras, e ao mesmo tempo completamente desafiadoras e ousadas para o que se entendia por cinema de "contação" de histórias de até então. Justamente em 1968, o ano de estreia de 2001: Uma Odisséia no Espaço, foi também o ano do estopim dos movimentos de protestos juvenis no mundo inteiro. Kubrick catalisou e expressou em imagens o espírito de toda uma geração que não encontrava mais vazão para suas aspirações de liberdade por aqui, no planeta Terra.

Desde o pioneirismo tecnológico utilizado em 2001- Uma Odisseia no Espaço, da fotografia de luzes naturais de Barry Lyndon, até o uso da steadicam em O Iluminado, Kubrick era incansável e irredutível na busca por novas formas de se fazer cinema. Em uma das cenas de Laranja Mecânica, numa loja da Inglaterra futurista, em plano aberto o personagem principal, Alex DeLarge, surge analisando discos na prateleira principal, e logo abaixo enxergamos o vinil de 2001: Uma Odisseia no Espaço. Comprova-se mais uma vez a importância e o divisor de águas que foi a obra, tanto no sentido imagético, estético, sensorial e sonoro, para o próprio diretor, para o público e para os cineastas posteriores. Stanley Kubrick sentencia que se tornara, a partir de então, sua própria referência na arte cinematográfica. 

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Medianeras – Era do Amor Virtual


Uma cidade que dá costas a seu principal afluente, que cobre o céu com cabos e os rios com edifícios, erguidos sem qualquer critério estrutural ou estilístico. Este é o cenário de Medianeras (2011), de Gustavo Taretto, filme argentino rodado em Buenos Aires, mas que poderia se passar na nossa capital pernambucana sem qualquer perda de sentido ao que se propõe (infelizmente).

Em poucas palavras, o casal protagonista do longa, Mariana e Martin é a literal tradução do que é uma “medianera”; laterais dos prédios, que se tornaram local de propaganda ou abrigo para imperfeições que surgem ao longo do tempo nas construções. Ela, formada em arquitetura, trabalha como vitrinista e se adapta à vida de solteira após 4 anos de relacionamento. Já ele, passa o tempo criando web sites e luta contra a depressão, que se agravou depois de ter sido deixado pela namorada.

Ambos são vizinhos, mas não se conhecem; e encontram nas suas fobias, desculpas para permanecerem estáticos, em confronto ao medo a possíveis decepções futuras. Todavia, ao longo do filme, é perceptível, pouco a pouco, que um é exatamente o que o outro busca, mesmo que nenhum dos dois tenha conhecimento disto. “Como vou achar quem procuro, se nem mesmo sei como é? ”, questiona uma Mariana conflituosa.

A partir daí acompanhamos a rotina dos personagens, através da narração alternada de cada um deles, e o modo como enxergam a realidade que os cerca. A má arquitetura surge aqui como subsídio para questionamentos da era moderna, da influência da internet nas nossas vidas e do distanciamento que a tecnologia nos impõe. Aliás, o filme é de uma linguagem metafórica que beira o poético! É de um deleite sublime dissecar os simbolismos por trás das cenas.

Apesar de tratar de questões por vezes árduas, o longa não perde o equilíbrio e engata humor em várias sequências, tornando tudo mais leve e digesto. Além disto, para fãs de cultura pop, Medianeras é um prato cheio! Referências a figuras icônicas como Darth Vader, Wally, Tim Burton e Woody Allen recheiam os 92 minutos de projeção.

O longa, acima de tudo, aborda os pós e contras de qualquer situação ou escolha. O uso da internet, que tanto desaproxima pessoas no mundo em que vivemos – até por ser um meio de defesa a frustrações e sofrimento – pode, em contrapartida, quando bem aproveitado, ser a porta de entrada para uma futura relação, seja qual for.

Medianeras nos brinda com inúmeros outros exemplos para ilustrar esta ótica, sendo o próprio filme o maior de todos eles. A sensibilidade de mostrar a saga dos personagens em meio ao ritmo frenético do caos urbano, torna tudo ainda mais difícil, ao mesmo tempo um grande lance de sorte, de nossa torcida cativa! E como não poderia ser diferente, ambos finalmente se encontram e permitem-se. A cereja do bolo fica a cargo dos créditos finais, onde assistimos ao casal dublar Ain't no Mountain High Enough – Marvin Gaye, Tammi Terrel, através de um vídeo no Youtube. Mais uma vez Medianeras, ironicamente, traz paralelos acerca da tecnologia, desta vez como instrumento benéfico de entretenimento; afinal, o filme nos ensina a necessidade de olharmos as coisas como são e delas tirar o melhor a oferecer. E por que não a capacidade de amar?