Estamos
a apenas dois
dias do início do Festival
mais aguardado pelos entusiastas e
amantes
do cinema pernambucano:
o Janela Internacional de Cinema do Recife. Improvável
que não
haja
sobressalto acerca
da espera por essas duas semanas de overdose fílmica, contaminante
dos
ares provincianos com uma fervorosa
espécie
de
sinergia artístico subversiva. Parece-me
que durante estes
15
dias a desesperança política e a falta de crença citadina dão
lugar a uma pontual sensação de refúgio
que só se pode encontrar na completude da sétima arte.
O
Festival, que marca
sua
oitava
edição, desta
vez traz duas novidades. A primeira é que este ano os três cinemas
de rua da cidade contemplarão a projeção dos
filmes de
6 a 15/
11:
Cinema da Fundação Joaquim Nabuco (Derby), Cinema São Luiz (Boa
Vista) e o recente Cinema do Museu do Homem do Nordeste (Casa Forte),
alternando entre estreias,
sessões
especiais,
debates
e reprises.
A segunda boa
nova
é que a venda de ingressos (rapidamente
esgotados)
se deu também através de plataforma online, o que facilitou em
muito a procura por conta da comodidade. Afinal, no ano anterior a
organização do festival sofreu severas críticas do público quanto
às intermináveis filas que circundavam o Cinema São Luiz e as
muitas horas gastas em pé para garantir
as entradas.
A polêmica chegou até virar motivo
de piada em evento
de
rede social:
De
qualquer forma,
é de encher os olhos
ver a comoção das pessoas desde
a quebra das atividades cotidianas para compra antecipada dos
ingressos (mesmo com o advento online este
ano,
houve
grande procura física),
até o frenesi das filas momentos antes de cada sessão: é
a
magia
genuína
do cinema de rua que só o Janela consegue resgatar.
A foto abaixo foi concebida às 16h desta quarta (6), no Cine São Luiz. // Créditos: Adriano Gomes
Acredito,
por
outro lado,
que o
público
de
Festival
venha
crescendo,
porém
sofrendo mutação ao
longo das edições. O
Janela
chega
com
mais
popularidade
até mesmo
do que
o Cine PE. Talvez
se
deva pela
valorização legítima
das pequenas às
grandes produções
locais, liberto
de certos vínculos governamentais,
além
de
estimular
a
consciência crítica do público e entusiastas ao preocupar-se com a
feitura de oficinas, palestras, debates e programas de incentivo à
criação,
a exemplo das vinhetas.
Confira a Vinheta Fight The Power, de 2014:
As
oficinas
oferecidas este
ano são
efeitos
visuais (VFX) para filmes de baixo orçamento, gratuita e
informativa
acerca
das
ferramentas
atuais para propor soluções no processo de criação de um filme;
oficina
Super
8, que comemora
os 50 anos de existência deste formato; e
a oficina Janela Crítica, destinada a cinéfilos que tenham
interesse em exercitar um olhar crítico para o cinema por meio da
escrita ao vivenciar esta prática durante todo o festival.
Em
2015, novamente com os fortes apoio
do Funcultura e patrocínio da Petrobras, o Janela
exibe 118 filmes de 21 países, dentre competição de curtas e
longas, além
do
diferencial de
mostras
como a
“Ghotic
Films”,
seleção do gênero Gótico Britânico com
os títulos:
Os Inocentes; Inverno de Sangue em Veneza; A Noite do Demônio; O
Homem de Palha; A inocente Face do Terror e
outros. Uma grata surpresa para os amantes do terror psicológico
onírico,
que
a
grosso modo possui todos os elementos característicos
de
um filme gótico: castelo lúgubre de alas abandonadas ou em ruínas,
corredores úmidos, catacumbas, lendas tenebrosas, maldições
ancestrais e até rituais pagãos. Além de vilões perversos, da
jovem inocente, vítima maior dos horrores, e o herói – contra as
forças do mal desencadeadas.
Imperdível
também é a cartela dos clássicos, que
contempla diretores consagrados: Quentin Tarantino (Jackie Brown),
Ethan e Joel Coen (O Grande Lebowski), Alfred Hitchcok (Intriga
Internacional), Charlie Chaplin (Luzes da Cidade), e outros.
Já
o
programa Cinema de Rua exibirá curtas temáticos sobre aqueles
feitos essencialmente
na rua e a mostra Filmes de Ação, um apanhado de produções
pernambucanas dos últimos cinco anos,
criadas
por realizadores envolvidos com a causa do Cais José Estelita.
A
mostra é
muito especial porque
esses registros
foram
concebidos como
resposta
coletiva às decisões de ocupação pública indevida
dos
espaços
da
cidade.
A
proposta
é
repensar
a
urbanidade
do
Recife
sem
mitigar
discurso político, como
é recorrente na
imprensa.
O
que carimba mais uma vez o comprometimento social dos
envolvidos no
Festival.
Entretanto,
acima de qualquer esfera,
o Janela
carrega enorme natureza nostálgica: desde a exibição dos clássicos
até as sessões bossa jovem (ao criar retrospectiva das antigas
projeções matinês do
Cine São Luiz), além dos primorosos ingressos que ensaiam a
simbologia de verdadeiros souvenirs. A janela se abre e nos é
permitida uma
eminente
viagem no tempo. As
vinhetas
funcionam como
portais para um universo imaginativo, de cores, lembranças
e até de saudade
antecipada
do momento presente.
O
frívolo e imediato dão
lugar ao
excecional, emprestando sabor ímpar aos eventos que ali ocorrem. Uma
experiência sensorial de expectativas dentro de um
pequeno trecho temporal: fazer
o público aguardar o ano inteiro por isso é sem dúvidas o conceito
do Festival.
Nesta
sexta (6), em sessão especial
de abertura do Festival, o
filme Boi
Neon,
do cineasta pernambucano Gabriel Mascaro (Doméstica;
Ventos de Agosto),
será exibido pela
primeira vez no
Recife. No
elenco,
Juliano Cazarré e
Maeve
Jinkings. Boi
Neon acompanha
a história de um vaqueiro que sonha em entrar para o mundo da moda.
Há
muita expectativa em torno do longa que até então já foi premiado
em mais
de
cinco
festivais,
entre
eles Veneza, Toronto e Rio.
O
valor dos ingressos para as sessões do Janela são super acessíveis
e vão de R$2 a R$7, a depender do cinema. Se eu fosse tu, eu ia!