Em
poucas palavras, o casal protagonista do longa, Mariana e Martin é a
literal tradução
do que é uma “medianera”; laterais
dos prédios, que
se tornaram
local de propaganda ou abrigo para
imperfeições que surgem ao longo do tempo nas construções. Ela, formada em arquitetura, trabalha como vitrinista e se
adapta à vida de solteira
após 4 anos de relacionamento. Já ele, passa o
tempo criando web sites e luta contra a depressão, que se agravou
depois de ter sido deixado pela
namorada.
Ambos
são vizinhos, mas não se conhecem; e encontram
nas suas fobias,
desculpas para permanecerem estáticos, em
confronto ao medo a
possíveis
decepções futuras. Todavia,
ao longo do filme, é
perceptível, pouco a pouco, que um é exatamente o que o outro
busca, mesmo que nenhum
dos dois tenha conhecimento disto. “Como vou achar quem procuro, se
nem mesmo sei como é?
”, questiona uma Mariana
conflituosa.
A
partir daí acompanhamos a rotina dos personagens, através da
narração alternada de cada um deles, e o modo como enxergam a
realidade que os cerca. A má arquitetura surge aqui como subsídio
para questionamentos da era moderna, da influência da internet nas
nossas vidas e do distanciamento que a tecnologia nos impõe. Aliás,
o filme é de uma linguagem metafórica que beira o poético! É de
um deleite sublime dissecar os simbolismos por trás das cenas.
Apesar
de tratar de questões por vezes árduas, o longa não perde o
equilíbrio e engata humor em várias sequências, tornando tudo mais
leve e digesto. Além disto, para fãs de cultura pop, Medianeras
é um prato cheio! Referências a figuras icônicas como Darth Vader, Wally, Tim Burton e Woody Allen recheiam os 92 minutos de
projeção.
O
longa,
acima de tudo, aborda os pós e contras de qualquer situação ou
escolha. O uso da
internet, que tanto
desaproxima pessoas no mundo em que vivemos – até
por ser um meio
de defesa
a
frustrações
e sofrimento – pode,
em contrapartida, quando
bem aproveitado, ser
a porta
de entrada
para
uma futura relação, seja qual for.
Medianeras
nos brinda
com inúmeros outros
exemplos para ilustrar esta ótica,
sendo
o próprio filme
o maior de todos eles.
A sensibilidade de
mostrar a
saga dos personagens em
meio ao ritmo frenético do caos urbano, torna
tudo ainda
mais difícil,
ao mesmo tempo um
grande lance
de sorte, de nossa torcida
cativa! E
como não poderia ser diferente, ambos
finalmente se encontram e permitem-se. A cereja do bolo fica a
cargo dos créditos
finais,
onde assistimos ao casal
dublar Ain't no Mountain High Enough – Marvin
Gaye, Tammi Terrel,
através de um vídeo no
Youtube. Mais uma vez Medianeras, ironicamente, traz paralelos acerca
da tecnologia, desta vez como instrumento benéfico de
entretenimento; afinal, o filme nos ensina a necessidade de olharmos
as coisas como são e delas tirar o melhor a oferecer. E por que não a capacidade de amar?