quinta-feira, 18 de junho de 2015

Medianeras – Era do Amor Virtual


Uma cidade que dá costas a seu principal afluente, que cobre o céu com cabos e os rios com edifícios, erguidos sem qualquer critério estrutural ou estilístico. Este é o cenário de Medianeras (2011), de Gustavo Taretto, filme argentino rodado em Buenos Aires, mas que poderia se passar na nossa capital pernambucana sem qualquer perda de sentido ao que se propõe (infelizmente).

Em poucas palavras, o casal protagonista do longa, Mariana e Martin é a literal tradução do que é uma “medianera”; laterais dos prédios, que se tornaram local de propaganda ou abrigo para imperfeições que surgem ao longo do tempo nas construções. Ela, formada em arquitetura, trabalha como vitrinista e se adapta à vida de solteira após 4 anos de relacionamento. Já ele, passa o tempo criando web sites e luta contra a depressão, que se agravou depois de ter sido deixado pela namorada.

Ambos são vizinhos, mas não se conhecem; e encontram nas suas fobias, desculpas para permanecerem estáticos, em confronto ao medo a possíveis decepções futuras. Todavia, ao longo do filme, é perceptível, pouco a pouco, que um é exatamente o que o outro busca, mesmo que nenhum dos dois tenha conhecimento disto. “Como vou achar quem procuro, se nem mesmo sei como é? ”, questiona uma Mariana conflituosa.

A partir daí acompanhamos a rotina dos personagens, através da narração alternada de cada um deles, e o modo como enxergam a realidade que os cerca. A má arquitetura surge aqui como subsídio para questionamentos da era moderna, da influência da internet nas nossas vidas e do distanciamento que a tecnologia nos impõe. Aliás, o filme é de uma linguagem metafórica que beira o poético! É de um deleite sublime dissecar os simbolismos por trás das cenas.

Apesar de tratar de questões por vezes árduas, o longa não perde o equilíbrio e engata humor em várias sequências, tornando tudo mais leve e digesto. Além disto, para fãs de cultura pop, Medianeras é um prato cheio! Referências a figuras icônicas como Darth Vader, Wally, Tim Burton e Woody Allen recheiam os 92 minutos de projeção.

O longa, acima de tudo, aborda os pós e contras de qualquer situação ou escolha. O uso da internet, que tanto desaproxima pessoas no mundo em que vivemos – até por ser um meio de defesa a frustrações e sofrimento – pode, em contrapartida, quando bem aproveitado, ser a porta de entrada para uma futura relação, seja qual for.

Medianeras nos brinda com inúmeros outros exemplos para ilustrar esta ótica, sendo o próprio filme o maior de todos eles. A sensibilidade de mostrar a saga dos personagens em meio ao ritmo frenético do caos urbano, torna tudo ainda mais difícil, ao mesmo tempo um grande lance de sorte, de nossa torcida cativa! E como não poderia ser diferente, ambos finalmente se encontram e permitem-se. A cereja do bolo fica a cargo dos créditos finais, onde assistimos ao casal dublar Ain't no Mountain High Enough – Marvin Gaye, Tammi Terrel, através de um vídeo no Youtube. Mais uma vez Medianeras, ironicamente, traz paralelos acerca da tecnologia, desta vez como instrumento benéfico de entretenimento; afinal, o filme nos ensina a necessidade de olharmos as coisas como são e delas tirar o melhor a oferecer. E por que não a capacidade de amar?