Uma
simbiose de Tudo o que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo (1972), de
Woody Allen; episódios das desventuras do Papa-Léguas e Coiote;
universo “tarantinesco”; debates éticos e políticos dentro das
instituições familiar e social; sem esquecer a palavra de ordem:
vingança. Este é Relatos Selvagens (2014), de Damián Szifron.
Através de situações recorrentes ao cotidiano, as tensões das
relações de poder em um sistema sublimam, e momentos simplórios se
tornam palco para o humor trash.
Ao
utilizar um formato pouco explorado, porém eficaz ao dinamismo
narrativo da obra, Damián encontra na fragmentação do longa em 6
curtas, um fortíssimo mecanismo técnico de apoio no trato com temas
sociais e antropológicos: denúncia e crítica à própria condição
humana, aos fracassos e fenômenos da modernidade.
Além
disso, o compositor Gustavo Santaolalla utiliza-se da trilha sonora
para suavizar e/ou destacar questões densas e por vezes nos dizer
mais do que a própria linguagem imagética e verbal poderia, para
assim reforçar a natureza degradada do homem, abjeção moral e
instintividade agressiva, mais uma vez em prol do humor. As cenas de
violência ganharam ainda mais força quando aliadas à inserção
cuidadosa e sarcástica da música, a exemplo de duas faixas da
trilha sonora do filme Flashdance (1983), e da valsa Blue Danube.
Relatos
Selvagens conta com o ator argentino Ricardo Dárin e grande
elenco. O longa concorre ainda na categoria filme estrangeiro na
competição pela estatueta do Oscar, que acontecerá no próximo dia
22 de fevereiro. Pedro Almodóvar, que assinou a produção, declarou ser fã da obra, mesmo que esta se desaproxime do seu estilo: “o
humor de Damián me diverte muito", pontua o cineasta.
Sexo,
violência, explosões, bebida, sangue e o elemento risível: este é o cenário de um
filme que mostra tempos aterrorizantes que estamos inseridos. O homem
permanece tão inseguro e instintivo, e até mais selvagem que seus
ancestrais, os macacos, escondendo-se dos predadores e atacando-os
para defender seu “habitat”.