2014
nos reservou produções de caráter coletivo, por vezes salientando
a experiência libertária de idealizadores em âmbito cultural e
também pessoal, a exemplo do aclamado Wild Tales (Relatos
Selvagens), de Damián Szifron, ou Boyhood, de Richard Linklater, no
entanto poderíamos definir Birdman, de Alejandro Iñárritu, a obra
mais consistente do ano neste sentido, sem perder, todavia, o
viés metafórico e ainda assim metalinguístico. É neste ponto que
Birdman é tão especial. Uma obra despida de egos e a favor de um
cinema questionador em sua forma, que perfila um amplo legado
cultural de ontem refletido em ações presentes.
O
cinema falando da própria indústria, dos blockbusters, espetáculos
teatrais e formação mecânica de celebridades. Com boas doses de
sarcasmo, a relação dessa dinâmica massacrante que submerge entre
personagens frustrados do mundo artístico, aqui revelada em
paranoias, medo da rejeição, na mais pífia inveja, e até na
existência de duplas personalidades, encontra um cenário perfeito
para que o diretor mexicano pudesse usar e abusar de planos
sequências, uma vez emulando o exercício ensaiado que é o
teatro (universo quase hegemônico no longa).
Já
não bastasse o trabalho minucioso realizado na fotografia, a cargo
de Emmanuel Lubezki, consagrado por trabalhos em Gravity (Gravidade),
pelo qual recebeu estatueta do Oscar, além de The Tree of Life
(Árvore da Vida) e Children of Men (Filhos da Esperança), a trilha
sonora que sintetiza batidas não ritmadas de bateria durante toda a
projeção do filme contribui para imersão do espectador na
realidade conflituosa e desordenada da figura mór da trama, vivida
por Michael Keaton, ator irônica ou propositalmente escolhido para o
papel com intuito metafórico, desta vez estabelecido através da
figura do herói, visto que o próprio Keaton não realizou qualquer
trabalho substancialmente reconhecido desde Batman, parceria com Tim
Burton nos anos 80.
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