Zootopia
desponta mais uma caprichosa animação da Disney. Só que dessa vez,
após ensaios em produções anteriores, os estúdios provêm uma
obra definitiva de discussão de gêneros e desconstrução destes. O
que é interessante e vital para que o público infantil já se
familiarize com estes conceitos desde pouca idade. Além de didática,
a obra é ousada no sentido de não deixar subtendidas estas
deflagrações de esteriótipos, determinismos, sexismos e afins.
Absolutamente nada fica nas entrelinhas. Tudo é e está muito claro,
tal qual como se configura a realidade fora das telas.
A
personagem principal do longa é uma coelhinha que luta por lugar ao
sol dentro da carreira que decidiu seguir. Judy é uma policial e
enfrenta a descrença de todos, principalmente por ser fêmea. O
chefe não confia em seu potencial e a subordina para funções que
não lhe cabem. Por sua própria conta, então, assume sozinha um
caso de desaparecimento. É daí que a produção começa a
reverberar o grito por igualdade de gênero, além de pincelar seus
primeiros traços como um verdadeiro noir moderno. Todos os elementos
estão aqui: investigação criminal; um crime não resolvido;
mistério; sugestão de romance; um anti herói; chefes da máfia e
as reviravoltas típicas.
Referências
a obras máximas da sétima arte também se fazem presentes. O
Poderoso Chefão é a maior delas e de longe a mais interessante
porque configura a relação entre mito e realidade. O chefe da máfia
é deflagrado como um pequenino rato carcamano que carrega sotaque e
uma
rosa no paletó, assim como o icônico Don Corleone, da trilogia
de Coppola. Essa é uma das tantas desconstruções de esteriótipos
que o filme propõe ao longo da projeção. A série Breaking Bad
também é homenageada, porém de maneira mais tímida, numa
sequência em que “lobos em pele de cordeiros” são descobertos
num vagão manipulando substâncias ilícitas.
A
obra de animação engata também críticas extremamente ácidas ao
funcionalismo público dos Estados Unidos. Mas como não haver
identificação imediata com o Brasil? O departamento de trânsito de
Zootopia é unanimemente composto por bichos preguiça, funcionários
estes que não negam o nome. A lentidão nos afazeres do trabalho e o
corpo mole reinam no local, além de fazer render uma das melhores
cenas do filme e ótimas risadas. Afinal, tornar risível certas
disfunções sociais e instituições falidas, por vezes, é
aliviador.
O
filme tem um ritmo que funciona, entretanto o ápice dramático
inexiste, deixando uma lacuna numa história que certamente pedia
comoção. As reviravoltas se dão, o mistério é solucionado, Judy
sai como heroína. Mas nada seria do homem, ou neste caso, o animal
(rs), sem a parceria de um amigo, a raposa macho, Nick. A sugestão
de romance acaba tornando-se amizade e gratidão. A pitada de
sentimentalismo não acontece, mas porque pedir mais de um noir
moderno animado e desconstruído? Zootopia é tudo isso ou o que você
quiser.
Nenhum comentário:
Postar um comentário