terça-feira, 3 de maio de 2016

A quebra de esteriótipos em Zootopia (2016)


Zootopia desponta mais uma caprichosa animação da Disney. Só que dessa vez, após ensaios em produções anteriores, os estúdios provêm uma obra definitiva de discussão de gêneros e desconstrução destes. O que é interessante e vital para que o público infantil já se familiarize com estes conceitos desde pouca idade. Além de didática, a obra é ousada no sentido de não deixar subtendidas estas deflagrações de esteriótipos, determinismos, sexismos e afins. Absolutamente nada fica nas entrelinhas. Tudo é e está muito claro, tal qual como se configura a realidade fora das telas.

A personagem principal do longa é uma coelhinha que luta por lugar ao sol dentro da carreira que decidiu seguir. Judy é uma policial e enfrenta a descrença de todos, principalmente por ser fêmea. O chefe não confia em seu potencial e a subordina para funções que não lhe cabem. Por sua própria conta, então, assume sozinha um caso de desaparecimento. É daí que a produção começa a reverberar o grito por igualdade de gênero, além de pincelar seus primeiros traços como um verdadeiro noir moderno. Todos os elementos estão aqui: investigação criminal; um crime não resolvido; mistério; sugestão de romance; um anti herói; chefes da máfia e as reviravoltas típicas.


Referências a obras máximas da sétima arte também se fazem presentes. O Poderoso Chefão é a maior delas e de longe a mais interessante porque configura a relação entre mito e realidade. O chefe da máfia é deflagrado como um pequenino rato carcamano que carrega sotaque e uma
rosa no paletó, assim como o icônico Don Corleone, da trilogia de Coppola. Essa é uma das tantas desconstruções de esteriótipos que o filme propõe ao longo da projeção. A série Breaking Bad também é homenageada, porém de maneira mais tímida, numa sequência em que “lobos em pele de cordeiros” são descobertos num vagão manipulando substâncias ilícitas.

A obra de animação engata também críticas extremamente ácidas ao funcionalismo público dos Estados Unidos. Mas como não haver identificação imediata com o Brasil? O departamento de trânsito de Zootopia é unanimemente composto por bichos preguiça, funcionários estes que não negam o nome. A lentidão nos afazeres do trabalho e o corpo mole reinam no local, além de fazer render uma das melhores cenas do filme e ótimas risadas. Afinal, tornar risível certas disfunções sociais e instituições falidas, por vezes, é aliviador.

O filme tem um ritmo que funciona, entretanto o ápice dramático inexiste, deixando uma lacuna numa história que certamente pedia comoção. As reviravoltas se dão, o mistério é solucionado, Judy sai como heroína. Mas nada seria do homem, ou neste caso, o animal (rs), sem a parceria de um amigo, a raposa macho, Nick. A sugestão de romance acaba tornando-se amizade e gratidão. A pitada de sentimentalismo não acontece, mas porque pedir mais de um noir moderno animado e desconstruído? Zootopia é tudo isso ou o que você quiser.

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