A
Bruxa (2015) foi um daqueles filmes que nem tinha conhecimento, mas chegou a mim através do boca a boca de colegas e ganhou meu imediato
interesse. O gênero por sua vez já me é convidativo: “terror”,
porém engana-se quem pensa ser o terror nos moldes modernos aos
quais estávamos adaptados (leia-se cansados). A Bruxa é filme de
angustia psicológica, ausente de sustos, que explora o oculto sem
perder as rédeas do real. Algo que muito remete ao cinema de
Polanski. Coisa de qualidade! Que não víamos desde muito tempo.
Tudo
muito bem trabalhado, as cores do longa em escala de cinza, cenários
verossímeis, trilha sonora extradiegética com função diegética,
assinada pelo canadense Mark Korven (que nos lembra o trabalho do
compositor húngaro Gyorgy Ligeti para 2001) e figurino contemplador.
Absolutamente em extrema harmonia, todos esses elementos se
configuram para que Robert Eggers realize a primeira obra da sua
carreira beirando o surreal ainda que vanguardista.
O
filme é datado da Nova Inglaterra do séx XVII, onde uma família de
camponeses são expulsos da aldeia a qual residiam e vão morar nos
arredores de uma extensa floresta. Esse é o ponto de partida para o
surgimento de fatos tenebrosos: animais tornam-se hostis, a plantação
morre e uma criança desaparece. O elenco praticamente todo infantil
ainda que desafiador para a direção, que parece reger com maestria
todos os envolvidos, nos mostra um resultado de performances
assombrosamente sublimes.
A
Bruxa, acima de tudo, é um filme de muitas metáforas e linguagem
subjetiva. Bastante do que é dito, não é dito, e sim mostrado
sutilmente. O não verbal dá espaço para mensagens simbólicas. E é
aí que se esconde a grande sacada do filme. Nas entrelinhas, o
espectador atento nota alguns conceitos religiosos muito específicos:
a divisão do pão na última ceia; o Santo Graal; o pecado do desejo
carnal, etc. Esses fundamentos trazem completude a inúmeras
sequências e nos oferecem
maior entendimento do que ali transcorre.
Já
considero A Bruxa uma obra prima do terror moderno, principalmente
por lembrar daqueles que fizeram escola no gênero: O Bebê de
Rosemary; O Homem de Palha; De Olhos Bem Fechados. O longa é
histórico, cultural e retira da raiz cristã o propulsor de seu medo
durante os 93 minutos
de projeção. A Bruxa é incompreendido por muitos agora, mas se
tornará um clássico num futuro bem próximo, assim como se desenhou
a história daqueles que possivelmente o inspiraram.
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